Quanto chora
meu coração
há tanta hora.
O leito
no rio
do meu peito
feito de osso
ranjente, ranjendo
tão fundo cava
cada expiração.
Como dois baldes
descendo ao fundo
dos meus pulmões
que são dois poços
cheios
do ar prenho
e grosso
das lágrimas
que tenho
e ouço
correr
e encher
e que doem
e sobem
e pressionam e
moem
meus ossos
como balões
de fogo
que querem subir
e não podem
incendiando
as árvores
que habitam meus pulmões
no seio dos ossos
ardendo
ardendo
em chama
dentro dos dois poços
ranjendo
gemendo
O rio
que corre
que corre
do leito
no centro do meu peito
inundando as margens
revivificando as raízes
abandonadas
esquecidas!
Trazem as correntes
das expirações
lentas, enferrujadas
os baldes
ao de cima,
como meus seios
de lágrimas
cheios
— de minha sina!
oh inspirações
oh Farol
que me vês de cima
Verte-as agora
sobre
as árvores
em fogo encharcadas
minhas lágrimas
de chamas
nestas páginas
vertidas
oh sonhadas
esculturas de mármores
a sangue
e sol
esculpidas
contra o estanque
do cinismo e da morte
apesar
da pesada sorte.
oh antes desertas
árvores
dentro de cada pulmão
e fora.
porque o meu coração
em todo o lugar ora
e mora
à luz
agora
libertas
— e vivas!